Crianças de quatro e cinco anos do Neim Campeche participaram de uma vivência fora da sala de aula com forte impacto educativo e afetivo. A caminhada até o Rancho do Seu Getúlio, no mesmo bairro da unidade escolar, representou o encontro entre infância, natureza e memória social.
Durante a manhã, os pequenos conheceram práticas tradicionais de pesca, conversaram sobre lixo marinho e visitaram embarcações esculpidas em árvores típicas da ilha. A atividade se mostrou valiosa como instrumento de formação ambiental e cultural.
Educação ambiental desde os primeiros anos
Com apoio dos professores e da monitora, a atividade foi organizada para promover não só conhecimento, mas envolvimento emocional com o território. Segundo a diretora do Neim, Laís da Costa Inácio, a visita ao rancho conecta currículo pedagógico e realidade vivida.

No rancho, Ivanir Faustino apresentou aos pequenos a lógica da pesca artesanal. A simplicidade dos equipamentos e a valorização da mão de obra familiar ajudam a manter a biodiversidade marinha e o sustento de comunidades tradicionais. Ao ensinar crianças sobre isso, planta-se uma semente de respeito ao uso consciente dos recursos naturais.
A ameaça invisível nos oceanos
Durante a roda de conversa, uma questão chamou atenção: o lixo invisível que circula entre as ondas. Ivanir mostrou como materiais jogados ao mar — sacolas, tampas, plásticos — muitas vezes são ingeridos por peixes e tartarugas. Em tom leve, mas direto, ele alertou sobre os efeitos devastadores da poluição.
Estudos recentes da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) apontam que o Brasil despeja mais de 325 mil toneladas de plástico nos oceanos anualmente. A exposição desses dados para o público infantil, de forma acessível, ajuda a formar uma geração mais atenta às consequências das próprias ações.
Troncos que viram história: a força das canoas artesanais
Três canoas permaneceram atracadas à areia durante a visita, silenciosas mas cheias de narrativas. Glória, Glorinha e Zé Perri foram moldadas com troncos de garapuvu, árvore que exige autorização para corte e uso. Cada embarcação guarda traços da relação entre homem, madeira e mar.
A Glória, mais antiga delas, atravessa décadas como testemunha silenciosa da rotina dos pescadores. Criada por Seu Deca e batizada em homenagem à filha, foi conduzida por Getúlio Manoel Inácio, figura marcante na história do Campeche.
Memória e resistência no litoral da Ilha
Getúlio fundou a associação dos pescadores e foi um dos criadores da Missa Campal da Tainha. Após seu falecimento, familiares e amigos criaram o Instituto que leva seu nome, responsável por preservar não apenas documentos e objetos, mas experiências e saberes que resistem ao tempo.
A visita das crianças ao rancho integra esse esforço coletivo de memória. Ver, ouvir e tocar o que antes era apenas tema de livros transforma o processo educativo e aproxima o ensino das raízes do território onde essas crianças crescem.
Pontos principais
- Alunos do Neim Campeche vivenciam aula prática sobre pesca tradicional.
- Conversa com pescador destaca perigos da poluição nos mares.
- Canoas de garapuvu servem como elo entre natureza e cultura.
- Instituto Getúlio Manoel Inácio mantém viva a tradição pesqueira.