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Turismo sustentável e educação ambiental impulsionam o Projeto Lontra em Florianópolis

Florianópolis, SC – Em uma iniciativa pioneira regional de conservação animal, o Projeto Lontra, coordenado pelo Instituto Ekko Brasil, promoveu recentemente a reintrodução de dois filhotes de lontra (Lontra longicaudis) nas margens da Lagoa do Peri. A ação marca um passo significativo nos esforços para reverter declínios populacionais e restaurar o papel ecológico desses mamíferos semiaquáticos na Mata Atlântica catarinense.


Reintrodução de animais nascidos em cativeiro

No início de junho de 2025, dois filhotes de lontra com cerca de oito meses foram libertados em habitat natural. Eles são irmãos — um macho e uma fêmea — cujos pais, Nanã e Lucky, estavam sob os cuidados do projeto. Nanã foi resgatada em 2016 ao ser encontrada em situação precária sob a Ponte Hercílio Luz. Lucky, por sua vez, foi entregue ao Projeto Lontra após ser mantido em um zoológico.

Turismo sustentável e educação ambiental impulsionam o Projeto Lontra em Florianópolis
Projeto Lontra preserva espécies e habitats na Lagoa do Peri, promovendo pesquisa científica e educação ambiental.

Antes da soltura, os filhotes passaram por exames de saúde e um processo de preparação que incluiu contato materno, mas com o mínimo de interação humana possível. Essa estratégia é fundamental para que os animais desenvolvam comportamentos adequados para a sobrevivência na natureza, como caça e defesa de território.


A importância ecológica e o estado da espécie

A espécie Lontra longicaudis, conhecida popularmente como lontra-neotropical, está classificada como “quase ameaçada” no Brasil. Entre os principais fatores de risco estão a perda de habitat causada pelo desmatamento, poluição de rios e lagoas, atropelamentos em rodovias próximas a áreas de preservação, envenenamento por produtos químicos e conflitos com pescadores.

O Projeto Lontra atua desde 1986 em Florianópolis com foco na pesquisa científica, resgate, reabilitação e educação ambiental. Além das lontras, também acolhe e estuda outras espécies da família Mustelidae, como iraras e furões. A reintrodução não busca apenas aumentar a quantidade de indivíduos, mas restabelecer funções ecológicas importantes, como o controle de populações de peixes e a manutenção do equilíbrio nos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos.


Desafios operacionais e conflitos sociais

Apesar dos avanços, o projeto enfrenta obstáculos significativos. Em algumas regiões, as lontras acabam entrando em viveiros de piscicultura ou capturando peixes de redes de pescadores, o que gera conflitos. Em situações extremas, alguns pescadores retaliam, matando os animais. Além disso, há registros de lontras envenenadas por rodenticidas utilizados em plantações próximas a cursos d’água.

Outra ameaça frequente são os ataques por cães domésticos soltos e os atropelamentos em estradas que cortam ou margeiam áreas de mata. Existe também uma série de exigências legais e administrativas: animais nascidos em cativeiro só podem ser soltos na natureza após protocolos rigorosos de avaliação e monitoramento, o que exige tempo, recursos financeiros e equipe qualificada.


Educação, comunidade e futuro do projeto

Uma parte essencial do Projeto Lontra é o envolvimento da comunidade local. São oferecidas atividades educativas, capacitações para multiplicadores ambientais e visitas guiadas à base do projeto, localizada às margens da Lagoa do Peri. Além disso, existe um programa de ecovoluntariado, que permite que pessoas participem de tarefas como monitoramento, resgate e reabilitação, além da manutenção da estrutura física do centro.

O sucesso das ações de reintrodução será acompanhado por câmeras e pela análise de vestígios, como pegadas e fezes, para avaliar a adaptação dos animais ao ambiente. Caso os indivíduos soltos se reproduzam ou ocupem território de forma natural, novas solturas poderão ser planejadas, fortalecendo a população local.

Este episódio recente reforça que a conservação da biodiversidade depende de ciência, conscientização social e esforço contínuo. A Lagoa do Peri, além de ser um dos cartões-postais de Florianópolis, se consolida como um importante refúgio natural e laboratório a céu aberto para espécies ameaçadas.

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