A exposição Baleeiras da Ilha transforma o restaurante Samburá, em Santo Antônio de Lisboa, em cenário de memória e beleza náutica. As imagens, feitas por Cristina Gallo, capturam os últimos vestígios de um modo de viver à beira-mar.
Em um tempo onde a tecnologia substitui saberes antigos, as baleeiras ainda resistem em comunidades tradicionais. A mostra convida o público a entender essa resistência por meio de fotografia, história oral e experiência cultural.
**A estética funcional da baleeira
As baleeiras não foram projetadas por designers, mas sim esculpidas por gerações de pescadores e mestres de ofício. Sua forma ovalada, o uso da madeira com encaixes escamados e o desenho do casco conferem leveza e robustez, características essenciais à vida em mar aberto.
Mais que embarcações, são símbolos vivos da engenharia popular, moldada pela geografia costeira e pelo conhecimento acumulado dos moradores da Ilha.
Cultura em risco sob o sal e o tempo
A exposição não surge apenas como contemplação visual, mas como alerta. A baleeira desaparece das praias catarinenses por diversos fatores: legislação ambiental que restringe o uso da madeira original, falta de sucessores na arte de construí-las e substituição por barcos industrializados.
Esse apagamento silencioso ameaça uma parte significativa do patrimônio cultural imaterial do Estado.
Imagens que preservam o que o tempo tenta apagar
Cristina Gallo percorreu praias, estaleiros e enseadas de Florianópolis em 2021. Buscava não apenas registrar, mas interpretar visualmente o espírito das baleeiras. As fotos trazem texturas da madeira envelhecida, marcas de uso e as cores aplicadas com criatividade por pescadores locais.
Cada imagem conta uma história, carrega nomes, trajetórias e a relação íntima entre mar e comunidade.

Samburá: um ponto de encontro entre o passado e o presente
O restaurante Samburá abriga a mostra como extensão natural de sua proposta. Instalado em terreno histórico, conduzido por um manezinho nato, o espaço serve como ponto de conexão entre tradição e modernidade.
No teto, canoas centenárias narram silenciosamente a longevidade dessa relação. Nos pratos e nas conversas, o visitante encontra camadas profundas da cultura local.
Preservar como ato de responsabilidade intergeracional
O Projeto Baleeiras da Ilha não tenta congelar o passado. Busca reativá-lo em novas formas: oficinas, exposições, produção de conteúdo digital e educação patrimonial. A ideia é formar pontes entre antigos mestres e novos interessados.
Valorizar o patrimônio náutico envolve manter a cultura viva em sua função social: ensinar, proteger e inspirar.



Entre a engenharia naval e a sabedoria popular
A construção de uma baleeira demanda domínio de física náutica, geometria aplicada e percepção empírica do comportamento da madeira em contato com a água. Estudos técnicos identificam na curvatura de seu casco uma solução ancestral de estabilidade.
Essas embarcações, mesmo sem projeto formal, seguem princípios que hoje são reproduzidos em design naval contemporâneo. A ciência confirma o que a tradição sempre soube.
- Exposição fotográfica documenta embarcações tradicionais
- Baleeiras foram registradas em comunidades de pescadores
- Técnica de construção está desaparecendo com os mestres
- Samburá oferece um ambiente cultural para vivenciar o projeto
- Venda das imagens financia ações de preservação e memória
- Engenharia das baleeiras guarda saberes ancestrais validados pela ciência