Na última quarta-feira, 4 de junho, dois filhotes de lontra (espécie Lontra longicaudis) foram reintroduzidos na natureza no Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri, no Sul da Ilha de Santa Catarina. A ação foi conduzida pelo Instituto Ekko Brasil, por meio do Projeto Lontra, em parceria com o Grupo Oceanic, e contou com o apoio técnico do IBAMA, do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) e da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram).
Com aproximadamente oito meses de vida, os filhotes – um macho e uma fêmea – são filhos de Nanã, uma lontra resgatada ainda bebê em 2016, sob a Ponte Hercílio Luz. A fêmea foi encontrada tentando mamar na mãe morta, vítima de traumatismo craniano. O pai dos filhotes, Lucky, foi encaminhado voluntariamente a um zoológico e posteriormente transferido para o projeto.
A espécie está na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e enfrenta graves ameaças, como perda de habitat, poluição dos rios e caça ilegal. Por isso, ações como a reintrodução de indivíduos nascidos em cativeiro são fundamentais para a recuperação populacional e o equilíbrio ecológico.

Segundo Elisa Brod Bacci, Educadora Ambiental do Projeto Lontra, o número de avistamentos da espécie na Lagoa do Peri diminuiu nas últimas décadas. “A estratégia é oferecer a esses animais a oportunidade de viverem em liberdade em um ambiente seguro. Esse é o nosso grande sonho”, afirma.
As lontras exercem papel essencial nos ecossistemas aquáticos, sendo predadoras de topo e indicadoras da qualidade ambiental. Sua presença saudável reflete o equilíbrio de rios, lagos e matas ciliares, reforçando a importância da conservação desses habitats.
A médica veterinária Priscila dos Santos Esteves destacou que os filhotes estavam preparados para a vida livre. “A lontra tem um vínculo materno muito forte. Por isso, criá-las exclusivamente com a mãe, mesmo em cativeiro, evita que criem laços com humanos. Isso aumenta as chances de sucesso da soltura”, explicou.

Mariana Hennemann, Chefe de Departamento das Unidades de Conservação da Floram, enfatizou o significado do momento: “A soltura desses animais representa décadas de trabalho para proteger e manter esse ambiente saudável para espécies sensíveis e ameaçadas como a lontra.”
Após a soltura, os animais serão monitorados por meio de armadilhas fotográficas, rastros, fezes e marcações odoríferas – técnicas que ajudam a estudar os hábitos das lontras e sua adaptação. Já foram identificadas sete tocas na área da Lagoa do Peri utilizadas pela espécie.
Além disso, o monitoramento abrangerá corredores ecológicos que ligam fragmentos de vegetação nativa, essenciais para o fluxo da fauna local. Caso os animais deixem a Lagoa do Peri – comportamento típico da espécie, que é nômade – isso será considerado um indicador positivo de adaptação e um estímulo a futuras solturas na região.
Veja a reportagem da RIC TV abaixo.