Florianópolis recebe nesta semana a quarta edição do Festival Inflamável, único evento de Santa Catarina dedicado à projeção de filmes em Super 8 e 16mm. De 9 a 12 de abril, o Centro Integrado de Cultura (CIC) será palco de sessões experimentais, oficinas gratuitas e performances que exploram os limites do cinema analógico.
A programação gratuita contempla produções inéditas realizadas em oficinas com artistas convidados, mostras competitivas e ações voltadas à acessibilidade. O festival se consolida como uma referência nacional na promoção do cinema expandido, ao reunir projeções em 35mm, slides e até fitogramas criados com flores e folhas.
Cinema analógico ganha força no Festival Inflamável
O Festival Inflamável transforma a sala Gilberto Gerlach em espaço de experimentação audiovisual. O uso de equipamentos históricos, como projetores de Super 8 e 16mm, coloca o público em contato direto com a materialidade do cinema, resgatando técnicas que desafiam a lógica da produção digital contemporânea.
Nesta edição, mais de 20 curtas-metragens foram criados na Oficina de Tomada Única de Super 8, ministrada em junho de 2024 por artistas selecionados. Os filmes, produzidos sem cortes, foram revelados e digitalizados para exibição durante o evento. A escolha pela técnica busca preservar o frescor do instante criativo e reforçar a estética do erro como linguagem legítima.
Exibição, performance e arte expandida em múltiplos formatos
As sessões não se limitam à tela de cinema. Performances ao vivo utilizam múltiplos projetores, como em Shangrilá, apresentada por Guillermo Zabaleta e Doménica Piol com três projetores de 16mm. A performance cria um espetáculo visual que interage com a música improvisada do Duo IT, unindo imagem, som e gesto em tempo real.
O artista argentino Paulo Pécora, homenageado desta edição, conduz Ensayo sobre un error recurrente, performance com cinco projetores analógicos simultâneos, incluindo Super 8, slides e 35mm. Seu trabalho busca refletir sobre a imperfeição como motor poético da criação em película, abordando os limites da técnica como impulso estético.
Inclusão e democratização no processo criativo
Com oficinas voltadas a crianças e a pessoas assistidas por CAPS, cegos e surdos, o festival amplia sua atuação para além da exibição. As atividades propõem criação coletiva e acessível, como a revelação botânica em 16mm conduzida por Doménica Piol, e o cinema sem câmera em fitograma — processo que imprime flores e folhas diretamente sobre a película.
A curadoria do Duo Strangloscope propõe ações que deslocam o cinema para o campo da experiência sensível e da formação cultural inclusiva. A ação de acessibilidade vai além do acesso às sessões e coloca os participantes como protagonistas da criação audiovisual. Essa integração busca garantir uma participação efetiva e contínua na cadeia da produção cultural.
Presenças internacionais fortalecem redes latino-americanas
Ao reunir nomes como o uruguaio Guillermo Zabaleta e o argentino Paulo Pécora, o Festival Inflamável amplia seu diálogo com o cinema experimental latino-americano. Pécora, que integrou todas as edições do evento, representa a conexão entre produção, exibição e preservação do cinema de baixo custo feito em película.
Guillermo, além de jurado, é destaque nas instalações e performances que compõem a programação. Já Rafael de Almeida, professor da Universidade Estadual de Goiás, traz uma abordagem crítica na masterclass sobre o filme-ensaio, defendendo uma estética do fragmento como forma de pensamento audiovisual.
Curadoria, produção e memória analógica em destaque
A produção do festival é assinada por Maria Emília Azevedo e o Duo Strangloscope, composto por Cláudia Cárdenas e Rafael Schlichting, que também assinam a curadoria. A equipe conta com profissionais especializados em projeção analógica, como Paulo Pécora, além de cineastas, produtores e técnicos locais.
Na sala de exposições do MIS, o público encontra instalações com filmes analógicos e obras de cinema expandido. O acervo acumulado pelas oficinas do festival ultrapassa 80 filmes produzidos em Super 8 desde sua criação, todos disponíveis online. A continuidade dessa memória reforça o compromisso do Festival Inflamável com a preservação e circulação da linguagem analógica.
- Festival acontece de 9 a 12 de abril no CIC, em Florianópolis
- Único evento em SC com projeções em Super 8, 16mm e 35mm
- Mais de 20 curtas inéditos criados em oficina gratuita são exibidos
- Performances ao vivo combinam múltiplos projetores e música improvisada
- Oficinas inclusivas garantem participação de surdos, cegos e usuários do CAPS
- Homenagem ao cineasta argentino Paulo Pécora e exibição de seu trabalho analógico
- Duo Strangloscope assina curadoria e promove ações com fitogramas e revelação botânica
- Exposição de cinema expandido ocupa o MIS com instalações e filmes experimentais
