Durante o Simpósio de Cerâmica realizado nesta semana, a Escola de Oleiros Joaquim Antônio de Medeiros reafirma seu papel como centro cultural e educativo de São José. A participação de artistas internacionais e universidades amplia a projeção da cidade como polo ceramista no Brasil.
A presença da portuguesa Virgínia Fróis, que trouxe à escola reflexões sobre argila e saber tradicional açoriano, simboliza a convergência entre a história da imigração e a vitalidade atual da arte em barro.
Capital da louça de barro ganha destaque internacional
São José consolidou-se como a capital da louça de barro em território brasileiro. A Escola de Oleiros, fundada em 1992, se tornou o núcleo desse reconhecimento. O local funciona como um espaço formativo, artístico e histórico, mantendo ativa a herança dos antigos oleiros da região.

A tradição da cerâmica não sobrevive apenas pela repetição de técnicas, mas pela sua reinvenção constante, que inclui o intercâmbio com artistas e estudiosos de diferentes partes do mundo. Eventos como o Simpósio reafirmam esse papel dinâmico da cidade.
Escola promove integração entre arte e ciência
Com o apoio da Secretaria de Cultura e Turismo, a Escola atua como elo entre gerações e saberes distintos. O Simpósio discutiu o uso de novas tecnologias na cerâmica e a inserção da prática artística em contextos acadêmicos. Virgínia Fróis, doutoranda com estudos focados em argilas vulcânicas, apresentou metodologias que aliam ciência e arte na investigação do barro como elemento vivo.
Esse tipo de abordagem contribui para qualificar os alunos e reforçar a autoridade técnica do ofício. O domínio da matéria-prima e o conhecimento geológico das argilas, por exemplo, tornam-se essenciais na criação de peças mais duráveis e expressivas.
Mestres locais preservam o saber com autenticidade
Entre os protagonistas da formação está o professor Ivo, um dos últimos mestres oleiros formados na tradição local. Reconhecido pelo cuidado com os processos e pela didática com alunos de todas as idades, ele compartilhou reflexões sobre tempo e espiritualidade da cerâmica.
Ao contrário da produção em massa, o fazer artesanal exige silêncio, escuta e respeito à natureza. Essa visão inspira uma geração que busca não apenas produzir, mas compreender a essência do ofício.
Interação com universidades potencializa pesquisa e extensão
A UDESC participa ativamente das atividades da Escola de Oleiros, com alunos e professores frequentando as oficinas e estudos de campo. Essa articulação fortalece projetos de pesquisa e extensão, ampliando a visibilidade da cerâmica como objeto de investigação acadêmica.
A formação integrada contribui para transformar a cerâmica em linguagem contemporânea sem perder suas raízes. Isso abre espaço para a inserção de novos artistas e o reconhecimento institucional do saber tradicional como patrimônio vivo.
Memória e pertencimento moldados com as mãos
A Escola se tornou um espaço de identidade coletiva. Cada peça moldada carrega fragmentos da história local e da cultura açoriana. A convivência entre crianças, jovens e idosos nas oficinas constrói uma comunidade onde o conhecimento é compartilhado sem hierarquia rígida, e onde a prática artística se alia à construção de sentido.
A valorização do ofício vai além da técnica. Trata-se de proteger uma memória afetiva e simbólica que sustenta a identidade de São José como cidade da cerâmica.
- Escola de Oleiros é referência nacional em cerâmica tradicional
- Simpósio debateu arte contemporânea e cultura popular
- Artista portuguesa promoveu intercâmbio com alunos e mestres locais
- Cerâmica é vista como linguagem, ofício e resistência cultural
- UDESC integra pesquisa com saber tradicional da comunidade